Quando o sertão enverdece

A centelha de Deus no oriente

Que precede uma voz grave e ruidosa

É prenúncio da época chuvosa

Que traz vida pra cada ser vivente

Faz brotar e vingar cada semente

Embalada nos braços deste chão

Amanhã, a fartura de feijão

Jerimum, milho verde e melancia

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

O anum-preto cedinho anunciou

Que a invernada rondava a vizinhança

E fizera com o tempo uma aliança

Para encher cada açude que secou

As cacimbas que outrora se cavou

E os riachos e rios sem vazão

Pois não é que conforme a previsão

Tudo isso de fato ocorreria?

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

O bornal preparado pro plantio

A enxada nas costas do meu pai

Minha mãe, logo atrás, não se abstrai

Das tarefas que em casa preteriu

Logo à frente o roçado lavradio

Ansioso esperando cada grão

Pois à noite foi só sofreguidão

Bebeu água até mais do que devia

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

Se um dia um alguém lhe perguntar

O que mais satisfaz o sertanejo?

Lhe responda sem medo ou pestanejo

Sem receio nenhum de gaguejar:

"É chegar no roçado e encontrar

A lavoura florada... olhe o botão!

O açude sangrando em borbotão

E do lado da casa alguma cria"

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

Quase nada de coco em catolé

No angico a resina muito pouca

Cupim gordo deixando a planta oca

Na colmeia mel pela chaminé

São sinais - que aqui todos dão fé

De que logo os céus logo se abrirão

Quando as águas enfim expulsarão

Esta seca que arde o nosso dia

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

Tudo aqui, de repente, explode em cores

Em aromas, sabores, plena vida

A paisagem agradece enverdecida

Exibindo feliz as suas flores

Passarinhos cantando seus amores

Vejam lá um concriz, corrupião!

No jardim que floresce no oitão

Borboletas colorem a folia

O nordeste se enche de alegria

Com a chegada da chuva no sertão

Martim Assueros,

no mote de Adeildo Nunes