“Sou poeta, boêmio e magistrado. E sou muito feliz por ser assim...”

Glosas ao Desembargador, do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Dr. Bartolomeu Bueno de Freitas Moraes: um Sertanejo e Poeta da Querida Cidade do Vale do Pajeú - Afogados da Ingazeira -, do meu Amado Pernambuco!

“Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim...”

I

Logo após que deixei a residência,

Fui morar na Veneza Brasileira,

A cidade das pontes, tão guerreira!

Nela sou proclamado de Excelência.

Me sagrei pregador com eloquência.

Pois o verbo reside em meu jardim.

Meu soneto se faz em um Jasmim,

Cujo verso sai lindo e perfumado,

Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim.

II

Terminei tão sonhada Faculdade,

No Recife me fiz então boêmio,

Porém Deus quis me dá formoso prêmio,

Ministrar grandiosa atividade.

Ser juiz, pois é minha identidade,

Que terei que rezar até o fim,

Mas a vida de quem era Aladim,

Não se apaga de um rei já coroado.

Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim.

III

Tudo passa na vida, tudo passa,

Mas nem tudo que passa a gente esquece,

Na memória o passado permanece.

A paixão de menino, o riso, a graça,

O sertão dos meus pais, a minha raça.

Meus forrós pé de serra no festim,

A gravata bordada azul de brim,

Que mamãe me deixou tão arrumado.

Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim.

IV

Ouvi Louro, com Pinto e com Xudu,

Menestréis dos repentes que proclamo,

Cujos versos heroicos eu declamo,

São heranças do velho Pajeú,

Comi tantas rolinhas com Pitú,

No Sertão do meu pé de gergelim,

Na Ingazeira e na minha Itapetim,

Trovador me tornei tão festejado,

Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim.

V

Hoje tenho prestígio, glória e fama,

Mas recordo da infância no sertão,

A perneira de couro e meu gibão,

Que foi traje da velha vaqueirama,

Quando lembro, meu peito se proclama,

Ouço longe tocar um bandolim,

E celebro o que Cristo fez por mim,

E os amores que tive no passado.

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

VI

As funções de juiz eu desempenho.

A família me brinda eu sou feliz.

Consegui tantos sonhos como eu quis,

Estou grato por tudo que mantenho.

Em mim vivem sinais do Velho Engenho,

Porque tenho meu sangue carmesim,

As histórias vividas de Arlequim,

Vivi tantas na vida apaixonado.

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

VII

Minha vida são hoje muitas vidas,

Retratada no rosto dos meus filhos,

Sei que tenho diversos pecadilhos,

Mesmo assim Deus perdoa nas feridas,

Lembro as horas alegres e queridas,

Da Afogados telúrica que eu vim.

Me recordo de Pedro de Amorim,

Um vaqueiro romântico e afamado.

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

VIII

Visitando Afogados sempre vejo,

Casarões, os mocambos e as janelas,

Lembro o tempo notável das donzelas,

Sinto tanto a vivência do gracejo,

Pois a vida de um velho sertanejo,

É presente e reside muito em mim,

Mas o tempo, um eterno Mandarim,

Traz apenas lembranças do meu lado.

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

IX

Minha musa até hoje me visita,

Com frequência componho lindos versos,

E retrato os momentos, hoje, imersos,

Na ilusão mais feliz e mais bonita,

Que a donzela do laço azul de fita,

Acenava e osculava para mim,

Com vestido bordado de cetim,

Para sempre fiquei enamorado.

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

X

Amo tanto meu grande Santa Cruz,

E também os afagos da morena,

Que com lábios carnudos me envenena,

Nosso amor conjugal em mim traduz,

Amizade, esperança, vida e luz,

Talvez vindas de um lindo querubim!

Me parecem que não terão mais fim!

Estarei fabulando arrebatado?

Sou poeta, boêmio e magistrado,

E sou muito feliz por ser assim.

XI

Trago sempre tão vivas na memória,

As imagens que nunca se apagaram

Cicatrizes que tanto me marcaram

Registradas na minha trajetória,

Que no livro que tenho da história,

Cujas laudas mais brancas que marfim.

São vertidas palavras de Elohim,

Que deu Cristo remindo meu pecado.

Sou poeta, boêmio e magistrado.

E sou muito feliz por ser assim.

José Turflay Albuquerque
Enviado por José Turflay Albuquerque em 23/10/2024
Reeditado em 12/11/2024
Código do texto: T8180311
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