APESAR DAS RUÍNAS E DA MORTE.
MOTE
Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias.
Sophia de Mello Breyner Andresen (Porto - PT)
GLOSA
Apesar das ruínas e da morte,
um ronronar aflorou lembranças,
em meu coração, dóceis e acolhedoras.
Amiga fiel, sempre me aguardava,
na porta, à espera de um carinho.
Embora não querendo encarar seu fim,
onde sempre acabou cada ilusão,
acreditava que Teca iria superar
seu desânimo e voltaria a brincar
e correr pelo pátio e pela casa, alegre.
Já não era a “Menina” brincalhona,
de andar gracioso e cheio de charme.
A força dos meus sonhos é tão forte,
que a vejo, no sofá, com a cabecinha,
no meu colo, e, eu, a acariciar-lhe.
Na manhã do dia 08 de dezembro,
ao chegar do colégio, encontrei-a,
sentada, à porta. Imensa foi a alegria.
Que de tudo renasce a exaltação
de que minha amiga estava reagindo.
No mesmo dia, ao retorno do mercado,
vi-a, quieta, em sua caminha. Nos olhos,
nenhum brilho sequer. O coração,
calado. Do amor, dóceis lembranças
e nunca as minhas mãos ficam vazias.