O JARDIM E A NOITE
MOTE
Atravessei o jardim solitário e sem lua,
Correndo ao vento pelos caminhos fora,
Para tentar como outrora
Unir a minha alma à tua,
Ó grande noite solitária e sonhadora.
(Sophia de Mello Breyner Andresen - Porto - PT)
GLOSA
Atravessei o jardim solitário e sem lua.
Próximo, jovens cantavam descontraídos;
palmas ecoavam e dóceis emoções vivenciadas.
Amor, carinho e respeito irradiavam olhares,
e eu, sem saber remover alguns obstáculos.
Em busca de minha essência saí
correndo ao vento pelos caminhos fora,
Nesta fuga, vi-me hipnotizada
por um concerto musical de pássaros.
Deitada na relva, esqueci-me de tudo!
Ali, permaneci por longos minutos
até alguém perguntar: – Estás bem? Sim! Sim!
Para tentar como outrora,
convidei-lhe a juntar-se a mim.
Sorrindo, falou: – Agora, queres conversar?
Compartilhamos horas ensolaradas e calientes,
assim como dias sombrios, frios e sem encantos.
Por meses, foi meu sonho e pensamentos
unir a minha alma à tua.
Hoje, a certeza de que isso não é mais o desejo!
Sensações afáveis afloraram com o anoitecer!
A brisa noturna e o aroma floral afagaram
por inteiro meu ser, instante que solidificou
quereres e novos ideais. Que beleza!
Ó grande noite solitária e sonhadora!