Tinha graça eu perder essa disputa, Para um vate da sua qualidade
Venci todo poeta pioneiro
Sou maior campeão de festival
E os calouros que tentam ser igual
Eu dou surra de verso no terreiro
Imagine um poeta balaiero
Sem talento e sem ter capacidade
Vai servir de chacota na cidade
Que nem um gigolô de prostituta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.
Hoje eu vou lhe mostrar o meu talento
E como é que se ganha festivais
Basta ser diferente dos iguais
Fazer tudo com mais de cem por cento
Ser sagaz e veloz igual o vento
Tenho esmero, padrão, boa vontade
E a quem deixa o serviço na metade
Sou pior que uma dose de cicuta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.
Nunca tive humildade com vassalo
Nem me deixo levar por falastrão
De uma légua eu conheço um fanfarrão
Do-lhe murro de verso que faz calo
Inda faço o traíra de cavalo
Pra correr em um Jockey da cidade
Depois deixo morrer de ansiedade
Esperando a revanche em outra luta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.
Para o vate que canta pé quebrado
Sou pior do que cobra cascavel
Sou a taça de vinho mas com fel
Que ao beber você morre envenenado
Concorrente não canta sossegado
Que o meu nome li tira a sanidade
Combatendo quem faz vulgaridade
Deus não deixa eu cair para um fajuta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.
Você pode juntar-se com caifás
Ser mais safro que o Papa, lá de Roma
Dos diabos que tem saber a soma
Ser afeto do próprio Satanás
Adorar beuzebu e Barrabás
Mas comigo não tem prosperidade
Se o meu verso é a Bíblia da Verdade
Que exorciza poeta mal conduta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.
Vou ganhar de você com dianteira
Se medir meu repente já tem sobra
Você pode inventar outra manobra
Pra tentar me vencer numa terceira
Que essa sua cartada derradeira
Tá repleta de tanta iniquidade
Não causou na platéia afinidade
Que quem julga não gosta de minuta
Tinha graça eu perder essa disputa
Para um vate da sua qualidade.