Pus no mar do esquecimento

“Pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado”

(Mote de Silvano Lyra)

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Eu era calmo, franzino,

era esquecido no mundo,

em tudo eu era segundo,

em tudo eu batia pino,

até que um dia um menino,

olhando pro meu estado,

assim me disse: “é danado!”

Então, naquele momento

pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado

e fiquei me exercitando

enquanto esperava o bonde...

Até hoje não sei onde

eu me apoiei, nem sei quando;

eu sei que eu ganhei um bando

de gordura, e não lamento:

pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado

e agora estou apressado

a viver o meu momento.

Às vezes já nem agüento

as coisas do dia a dia:

hoje eu sinto uma agonia

quando eu desisto e não tento.

Pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado;

é caco pra todo lado

e eu assumi compromisso:

hoje eu não penso mais nisso,

hoje eu me sinto animado,

eu já não vivo cansado

e já disputo com o vento.

Pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado,

quando eu era atarantado,

quando tudo era um tormento,

eu vivia em modo lento

e com tudo eu desistia.

Eu já esqueci o dia

e todo esse sofrimento.

Pus no mar do esquecimento

as coisas do meu passado.

Até quando o céu, nublado,

ameaça outro tormento,

eu me acalmo, eu não esquento.

Eu sei que este mundo gira

e quem ao mundo se atira

logo, logo, atinge a meta

e atende a voz do poeta

glosador Silvano Lyra.