O Velório do bom Forró
Vejo grande diferença
Nas noites de São João
Nos arraiais do sertão
O forró perdeu a crença
A juventude só pensa
Naquilo que apareceu
Ritmos que não se viveu
No São João do matuto
São João está de luto
O bom forro já morreu
Fui passar o São João
Bem longe no interior
Mas que surpresa, que horror
O som, música e atração
Não ouvi forró, baião
Tudo isso me aborreceu
Não convidaram Alceu
Seu Luiz deve está puto
São João está de luto
O bom forró ja morreu
Para o além eu perguntei
Marinés gritou um não
Trio Nordestino então
Chamou de fora da lei
Prefeito pensa que é Rei
Ou que o Município é seu
Cidadão esmoreceu
Mas tem poder absoluto
São João está de luto
O bom forró ja morreu
Meu amor olhou pro céu
E lá não tinha balão
Também na festa o baião
Acabou, fiz escarcéu
Pró forró tiro chapéu
O vil metal não venceu
O Chote não faleceu
Vamos expulsar o bruto
São João está de luto
O bom forró ja morreu
Eu só tenho uma certeza
Sobre quem devo culpar
O Prefeito quer roubar
O cachê com esperteza
E toda essa ladroeza
Muita propina rendeu
O forró comprometeu
Eu protesto resoluto
São João está de luto
O bom forró ja morreu
Faço aqui meu manifesto
Outros poetas convido
O que tem acontecido
Merece nosso protesto
Eu com cordel grito e atesto
Faça seu, o grito meu
Diz Delegado Dirceu
Ladrão sem salvo conduto
São João está de luto
O bom forró ja morreu
Mandacaru perde a flor
Jumento em quase extinção
Descartado no sertão
Aqui não falta calor
Música estranha é pavor
Quando a moto apareceu
Carolina escafedeu
Num clamour absoluto
São João está de luto
O bom forró já morreu
Sanfoninha não mais chora
Nem ouço a voz de Gonzaga
Sofremos co'a triste saga
Bundalelê toda hora
Só vejo o teclado agora
Sanfona foi pro museu
O triângulo emudeceu
Só guitarras no reduto
São João está de luto
O bom forró já morreu
Tempo de festa junina
Com quadrilha estilizada
O chapéu, a meninada
Enfeita com serpentina
Passos de forró se ensina
Alguém finge que aprendeu
Barracas tudo vendeu
Um sucesso absoluto
São João está de luto
O bom forró já morreu
Bolos, doces, caipirinha
Numa barraca lotada
Culinária variada
Até xerém com galinha
De cerveja à caipirinha
De tudo lá se vendeu
O xadrez prevaleceu
Sob o chapéu de matuto
São João está de luto
O bom forró já morreu
Na praça, Escola e na Igreja
Vigora a festa junina
A turma se contamina
Dança quadrilha, ora veja
O clima junino enseja
Anarriê, verso meu
Alavantu, mote seu
Jessé grita, resoluto
São João está de luto
O bom forró já morreu.
Glosas1: *Jorge Pregoeiro/SE*.
M&G2a6: *Jessé Ojuara-SSA/BA*
Glosas 7a10: *Tânia Castro/RN*.