UM TIGRE NA SOMBRA

MOTE

No fundo do corredor

um espelho em pé é uma casa de vidro;

um espelho deitado é um mar, abismo.

Em ambos, algo me observa,

lambendo calmamente as patas.

Lya Luft (PortoAlegre - RS)

 

GLOSA

No fundo do corredor,

um caminho encantado,

onde o mágico transpassa-me,

ora dias radiantes; ora, não.

O que isso pode significar?

 

Em meus pensamentos,

um espelho em pé é uma casa de vidro,

que exibe fantasmas e medos.

Oh! Quanta angústia neste coração!

Preciso valer-me de um Serafim.

 

Por estar assustada,

neste ver e sentir a vida, concluí:

um espelho deitado é um mar, abismo.

Logo, a dor, que me arrebata,

fora aflorada por fatos passados devastadores. 

 

Entre lágrimas e muita emoção,

respostas busquei; no entanto, não as obtive.

No fundo, eu sabia que,

em ambos, algo me observa.

Com tristeza, perguntei-me: - O quê?

 

Corpo e alma estiveram despedaçados,

por longos e longos anos.

Só eu sei o quanto sofri.

Meus males são um tigre

lambendo calmamente as patas.