VOZ DE OUTONO
MOTE
Ouve tu, meu cansado coração,
O que te diz a voz da Natureza:
– Mais te valera, nu e sem defesa,
Ter nascido em aspérrima solidão.
Antero de Quental (Ponta Delgada – PT)
GLOSA
Ouve tu, meu cansado coração,
que frente às tuas palavras calientes,
enfeitiçou-se e teve afáveis sensações,
e, pelos nossos sonhos, vi-nos sapientes.
Encantada, vi o céu despir-se das estrelas.
O que te diz a voz da Natureza?
– Desejos teus, irei pintar em aquarelas
e, em teus olhos, perder-me-ei com certeza.
Numa noite, deste-me um colar de turquesa,
quando a glamour da ocasião quebrou-se ao te dizer:
– Mais te valera, nu e sem defesa.
É, sim a tudo; nada fazes para me contradizer.
A brisa noturna e o aroma floral
despertaram-me, por ti, gestos de gratidão,
embora nem tudo fora rosas no litoral,
ter nascido em aspérrima solidão.