EU NÃO SEI PARA ONDE VOU
MOTE: "Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei para onde vou".
(Cantado por Sebastião da Silva).
GLOSAS:
Quando novo, brincava no terreiro
Cobra-cega, bicheira e de pião
Escutava o forró de Gonzagão
Me lavava de tarde num barreiro
Assistia papai sendo vaqueiro
Que só uma lembrança me deixou
O gibão que no mato mais usou
Que é detalhe do povo nordestino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Madrugada, cedinho, pai chamava
Para a gente poder se levantar
Uma vela acendia no altar
E o Ofício todinho se rezava
Minha mãe um café forte coava
Vendo um rádio de pilha que comprou
E um menino no braço sustentou
Para dar de mamar esse menino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Quando jovem logrei ostentação
Eu estava presente no que havia
Uma festa por perto não perdia
Ia solto sem ter preocupação
O futuro embalado num rojão
Sem controle, veloz, muito avançou
E a flor dessa idade carregou
Todo tempo pra mim é vespertino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Os projetos que fiz quando criança
Reviveram comigo muitos anos
Tracei metas, cumpri, fiz outros planos
Que reservo no arquivo da lembrança
Paciente esperei com esperança
Um bocado de coisas já vingou
Do contrário, tem outras, não vogou
Pois o tempo não deixa, é clandestino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Era dono de mim, não tinha sono
De preguiça pra ver manifestado
Tudo aquilo que eu tinha planejado
Pra dizer: do projeto eu sou o dono
Muitas vezes fui tolo e fiz um trono
Que a velhice vindoura se apossou
Pôs os pés no escabelo, se sentou
Eu, sem tempo, não pude procrastino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Hoje vago sem ter mais direção
Minha estrada entortou, não tem mais prumo
Os meus paços não cruzam outro rumo
Até mesmo, não há mais condição
Já não posso parar de supetão
Pois a vida que tenho não parou
E o sentido que tenho é que eu estou
Já gozando da morte um predestino
Eu já tive nas mãos o meu destino
Mas agora não sei pra onde vou.
Baixa Grande 13/02/2020