A BAZUCA REDENTORA
“Da resiliência pandémica 2020”
Fala-se da resiliência pandémica
E já quase meio ano passou
Crise que não cessa, é endémica
Que anda por cá, cristalizou.
As medidas são a conta-gotas
Para uma pandemia sistémica
E porque as melhorias são poucas
Fala-se da resiliência pandémica.
Por aqui melhoras, por ali pioras,
Esperanças há e não resultou
Tudo aparece fora de horas
E já quase meio ano passou.
Só com máscaras, não se vai lá,
Muito menos com tara higiénica,
As soluções? São para amanhã
Crise que não cessa, é endémica.
Propôs-se a “bazuca redentora”
Para esta crise que se instalou,
Foi uma utopia promissora
Que anda por cá, cristalizou.
Nenhuma “bazuca” é redentora
Quando não há entendimento
E deita-se pela porta fora
O que poderia ser nutrimento.
Um ninho de víboras, esta Europa
Que oscila entre lucro e partilha,
Ser só utopia é coisa pouca
E, assim, nada se desenvencilha.
Quem lá impera é o rei-dinheiro
Com águas turvas e tubarões,
Campeia a dor a tempo inteiro
Em noite negra de alçapões.
As "Convenções" são letra-morta,
Ficam as intenções para os loucos
E quando se bate a qualquer porta
Apenas surgem ouvidos-moucos.
Ai bazuca, ai reles bazuca,
De famigerada desfaçatez,
Começaste forte e estás caduca
E és zero, às duas por três…
Europa, tu não passas de ilusão
E andas sempre de seca em meca,
Mais vale pouco de boa intenção
Do que agires com pólvora seca.
Dizes sempre que nunca chega,
Menos pra quem ousa meter a luva,
Pra quem precisa nada escorrega…
Pois há muita parra e pouca uva.
Europa-Social, como «projecto»
Até parece … mas para que serve?
É que, nas horas de grande aperto
Não passa de “gato-por-lebre”!
Se não há problemas, tudo bem:
Deitem cá todos para o bolo…
Mas, quando escasseia o vintém
Só acredita nela quem é tolo!
Nesta Crise – de ruim memória,
E de tão polémica amargura –
A Bazuca entrará na história
Qual sendeiro de triste figura!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA