SANTO ANTÓNIO CONFINADO
“Auto de Comiseração 2020”
Eu quero, meu Povo, lavrar
Um Auto de Comiseração,
Pra loucamente protestar
Esta falta de consideração!
Vi o meu País confinado
Sem o meu Nome celebrar,
Um grito de alma revoltado
Eu quero, meu Povo, lavrar.
Sei que, Povo, não és culpado
Porque me estás no coração,
Quero lavrar, mesmo confinado,
Um Auto de Comiseração.
A culpa é de quem ´stá lá em cima
E qu´ não nos sabe governar,
Venho aqui, por auto estima,
Pra loucamente protestar.
Tenho saudade de minhas Festas
E dos andores de Procissão
Lamento, por razões manifestas
Esta falta de consideração.
Dizem eles que é do Covide
A origem da triste razia,
Vê-se que não percebem pevide
Do que chamam de pandemia.
Quase oitocentos anos passaram
Em que me puseram nos altares,
Agora, até os arraiais proibiram
E, na Imprensa, apenas uns ares.
Já que estou confinado, então
Vou escrever, lá no Convento,
Um «Auto de Comiseração»
À laia de Desconfinamento:
"Quero que fiquem a saber,
S´ é que são filhos de boa gente,
Que a Tradição há que manter,
Desalmado seja quem o não sente.
D´ hoje em diante, haja o que houver,
Se isto se voltar a registar,
Minhas Festas terão de acontecer
E o meu Nome se há-de louvar.
Haja, pois, marchas e procissões,
Haja Sermões e missas cantadas,
Haja manjericos aos montões
Com Arraiais e sardinhadas.
O recado não é só prós adultos,
Mas p´ ras moças e criançada,
Se querem favores e indultos
Há-de a coisa ser bem pensada…
Haja cascatas e tostõezinhos,
Haja abrigo pros desgraçados,
Haja casórios, haja pãezinhos
E menos meninos abandonados.
Haja mais nomes com António,
Haja milagres de quebra-bilha
E água benta contra o demónio
Com namoradas de maravilha.
E, sem abusar na honraria,
Há meu Responso para fazer,
Vai-se a peste e a pandemia
E o medo d´ alguém se perder.”
Este Auto de Comiseração
Faz parte do meu património
Somem a ele a minha Oração
Ou Eu não me chame d´ ANTÓNIO!
Frassino Machado
In JANELAS DA ALMA