Eu quero é dormir na praça

(Mote de Dulce Lima)

Dizem uns que é mais sensato

olhar o mundo que passa

à distância, sem contato,

ou mesmo pela vidraça.

Eu já não ouço essa fala

e não agüento outra sala;

"eu quero é dormir na praça".

Eu me abracei com "Celite",

estava só de cachaça.

Não era labirintite,

pois ressaca logo passa.

Eu passei água na boca

e gritei, numa voz rouca:

"eu quero é dormir na praça"!

Veio lá do oriente

essa peste, essa desgraça,

obrigando toda a gente

a se abrigar, com mordaça.

Eu me defendo, asseguro,

entretanto, eu penso, eu juro:

"eu quero é dormir na praça".

O tal do Coronavírus

nos trouxe a terceira guerra,

entanto, não se ouvem tiros

nos quatro cantos da Terra.

"Eu quero é dormir na praça",

mas, enquanto ele não passa,

ou se resguarda, ou se ferra.

Não me engano co'essa gente,

eles gostam de arruaça.

Eu penso bem diferente:

"eu quero é dormir na praça"

e sentir a natureza

em mim, com toda a beleza.

Não me interessa a desgraça.

04/04/2020