A SECA BRASILIENSE

A SECA BRASILIENSE

Miguezim de Princesa

Pode ser governador

Ou chefe de tribunal,

Todo mundo passa mal

Com a seca e o calor,

Qualquer nariz que sangrou

Usou algodão ou pano:

- É rico aquele fulano!

A venta ao clima pertence,

A seca brasiliense

Torna igual o ser humano.

II

Ibaneis foi discursando,

Se empolgou a falar:

Foi o nariz assoar,

O sangue saiu jorrando,

Veio um assessor babando

E disse: - já tou 'pegano';

Se deitou, passou o pano

no sangue piauiense:

A seca brasiliense

Torna igual o ser humano.

III

Só o Ipê resistiu

A essa seca inclemente:

Cobriram o céu de repente

Com o agosto febril;

A conta de luz subiu,

Principalmente no Plano;

O pobre molhou um pano

Que encontrou nos pertences,

A seca brasiliense

Torna igual o ser humano.

IV

E os ricos da Papuda

Usaram a mesma torneira;

Quem sofria com goteira

Da seca teve uma ajuda;

Me disse uma mulher buchuda,

Me adiantando seu plano:

- Faço outro para o ano,

Mas vai nascer riograndense!

A seca brasiliense

Torna igual o ser humano!

V

Agora a chuva chegou

Para aliviar o mal:

Há festa na capital,

O foguete pipocou,

Um comunista gritou:

- Deus é mais, grande é seu plano!

No Cruzeiro tá pingano,

Disse Moa, quase circense:

A seca brasiliense

Torna igual o ser humano!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 25/09/2019
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