A CONFISSÃO DE POETA
“Glosando o poeta Albertino Galvão”
SOU TÁBUA RASA, SOU FADO,
VERSO SEM MÉTRICA E RIMA
DUM POEMA INACABADO
COM MANIA DE OBRA-PRIMA!
Albertino Galvão
Quando eu me penso, pergunto
O que sou desde o passado,
Por mais que pense n´ assunto
Sou tábua rasa, sou fado.
O meu fado é a Poesia,
Sinto-a com grande estima,
Mas sai-me pela harmonia
Verso sem métrica e rima.
Tento, porém, dar-lhe a volta
Co´ o meu discurso versado,
Fica-me um esboço à solta
Dum poema inacabado.
Não sei mesmo o que se passa,
Se ´stou em baixo, ou em cima,
Olho para ele, e com graça,
Com mania de obra-prima.
Se ele é obra-prima ou não
Nem me quero preocupar
Saiu assim da minha mão
E é assim qu´ há-de ficar.
Há tanto poeta que vejo
A mascarar-se de poeta
Que até meus versos desejo
Colocá-los na gaveta.
Mas eu não o faço, não,
Sou poeta, sou resistente,
Minha poesia é pendão
E é luz para muita gente!
Frassino Machado
In AS MINHAS ANDANÇAS