PRATO VAZIO
PRATO VAZIO
Duas mãos calejadas pela lida
são as armas do pobre contra a fome.
Sem dinheiro sem estudo e sem nome,
muitas vezes contra o frio nem guarida.
Completando essa existência sofrida
a comida que ele ver é num retrato.
Pede ajuda e o que recebe é maltrato.
No horizonte só enxerga a incerteza.
Há um prato vazio sobre a mesa
e dois olhos famintos olham o prato.
Porta a porta na busca de comida,
segue a luta na busca do viver.
Já cansado quase certo de perder
a batalha que ele trava em prol da vida,
não encontra uma alma comovida
que lhe faça escapar do ultimato.
Nasce, cresce, morre no anonimato.
Pois a fama lhe ignora com certeza.
Há um prato vazio sobre a mesa
e dois olhos famintos olham o prato.
Já recluso depois de um dia inteiro
de batalha na busca de comida.
Ele senta e pensando em sua vida
não enxerga o motivo verdadeiro.
Na panela não vê nenhum tempero,
mas a fome lhe rói conforme um rato.
Esta mesma com ele fez um trato,
Registrado no cartório da tristeza.
Há um prato vazio sobre a mesa
e dois olhos famintos olham o prato.
Mas a dor que ele sente no intestino
não lhe dói como dói no coração.
Olha prole e no olhar pede perdão
pois a fome está na cara do menino.
Da menina imagina o destino,
qualquer preço para o corpo é barato...
Sua amada se alimenta do abstrato
e lhe passa o que a resta de firmeza.
Há um prato vazio sobre a mesa
e dois olhos famintos olham o prato.
Segue a vida do pobre escondida,
pela venda que venda o avarento.
Pois pra este é bem mais do que o sustento
e pra outro não chega nem comida.
Quantas vezes cegamos nesta vida,
pra não ver que estamos sendo ingratos?
No banquete posamos pra retratos
Mas comer não se pode... Por magreza!
Tantos pratos repletos sobre a mesa
E os olhos nem olham para os pratos.
Lucivânio Corrêia – Xbojp
24/01/2018
Poema publicado no livro da VII Mostra de Poesia Abril para a Leitura do Banco do Nordeste.