CHUVA URBANA
Está chovendo fortemente
No Teatro do Rossio
Na avenida vai fluente,
A água, como num rio.
Pelas ruas de Lisboa
Vai passando muita gente
Mas, como algo que destoa,
Está chovendo fortemente.
Ruas largas e estreitas,
Lá no fundo o largo rio,
Há suspiros e desfeitas
No Teatro do Rossio.
Também sopra forte vento,
Cada árvore bem o sente,
Mas o povo a contratempo
Na avenida vai fluente.
Leva tudo a chuva urbana
Para o Tejo, num corrupio,
Vai fluindo nesta semana
A água, como num rio.
É bela a chuva a cair,
É belo o vento a soprar,
Não é belo ver desistir
Os poetas sem poetar.
- Chuva urbana, chuva urbana,
Vais caindo em sinfonia
Branda, forte e às vezes tirana,
Para as horas da Poesia.
Chuva urbana não se mede
Ela desliza pelas ruas,
Chuva rural mata a sede
À regueira das charruas.
Vem tardio este inverno,
Não demora a primavera,
Para que haja bom governo
Não se pode estar à espera!
Frassino Machado
In AO CORRER DA PENA