FALSA REALEZA
FALSA REALEZA
(mote / glosa)
Entra sem ser convidado,
o mendigo "enche o bucho"
num casório badalado...
recebe enterro de luxo !
I
Convites pra toda parte...
100 carros enfileirados
em casamento afamado.
O pai quase tem enfarto,
50 milhões no quarto
para gastar "adoidado"
co'a filha e o namorado.
Um mendigo, junto a ala
de carros, no porta-mala
entra sem ser convidado.
I I
Intruso -- dentro da festa --
mete a mão nos salgadinhos,
fica co'os bolsos cheinhos,
pede música à orquestra.
Com mau-cheiro o ar empesta !
Lá na porta impede o fluxo
dos entrantes, roupas puxa...
tanto come o desgraçado
que acaba empanturrado.
O mendigo "enche o bucho" !
I I I
Deputado o "reconhece":
foi amigos seu, crianças,
velhos tempos de "lambança"...
de época que a gente "esquece" !
Seu mau modo o aborrece
e incomoda os convidados.
Há de ficar mal-falado
-- da Bahia até Brasília --
e envergonhar sua filha
num casório badalado.
I V
Finge o rico que o mendigo
era um nobre muito esnobe
que se passava por pobre
desde um tempo bem antigo.
Contrariar-lhe é um perigo !
De repente dá um soluço
e, sufocado, estrebucha...
cortejado qual político,
eis que o "traste" sifilítico
recebe enterro de luxo !
"NATO" AZEVEDO
(em 6/fev. 2018)