O CASAMENTO DO FROUXO DAS ALAGOAS

Miguezim de Princesa

 

I

Um cabra das Alagoas

Foi casar, quase morria.

Eu só vi a agonia

No semblante da pessoa:

Suava como garoa,

Escureceu a visão,

Tremeu pegando na mão,

Quis beijar, errou a boca,

Achando a miséria pouca,

Tombou e caiu no chão.

II

O padre, muito assustado,

Parou a celebração,

Quase chama o rabecão

Para levar o coitado.

- Será que ele é viado? –,

Perguntou Rosa Fateira.

- Cabra fraco da moleira,

Casar assim se tremendo,

Casar a pulso, correndo

Com medo da companheira.

III

- O coitado amarelou -,

Disse o padre no altar.

- Ele não pode casar,

Já estou sentindo o fedor.

Me ajude, Nosso Senhor,

Dê-me a força de um jumento

Que eu espero esse elemento

Escapar dessa aflição

E, até com a vela na mão,

Celebro esse casamento.

IV

A noiva disse: - Ele casa,

Porque ontem no escuro,

No caminho detrás do muro,

Acabou mandando brasa.

Ou casa ou meu pai arrasa

Com a família de Ademar:

É capaz dele arrancar

A coisa mais preciosa

E no monturo de Rosa

Dar ao gato pra cheirar.

V

Correram pro hospital,

Levaram o padre também.

Quando ela disse: - Meu bem!,

O cabra ficou bem mal.

- Ou casa ou morre, Seu Tal!

- Eu caso, minha querida,

Serei fiel toda vida,

Desculpe esse qüiproquó.

É que, quando vi Maceió,

Quase tenho uma recaída!

 

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 26/11/2017
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