CADA RASA UM SALAMIM
“Tributo de Todos os Santos”
«Dedicado a Augusto Oliveira»
Ó belos tempos, mas ó triste fadário,
Tributo social qu´ era mesmo assim,
Pros ricos, farta rasa em numerário
E para os pobres, um reles salamim.
Os tempos que eu vivi e acompanhei,
À sombra tutelar do sor vigário,
Nem quero lembrar a vida que passei
Ó belos tempos, mas ó triste fadário.
A seguir à vindima vinham os Santos,
O alarme dos senhorios era coisa ruim,
As contas e os débitos eram tantos -
Tributo social qu´ era mesmo assim.
Nós, os pobres, só tínhamos trabalho
O suor do rosto e a cruz para o calvário,
A chuva e a neve e um fraco agasalho
Pros ricos, farta rasa em numerário.
Uns gozavam a vida com toda a arte
Outros viviam a sofrer até ao fim;
Pros ricos, destinada a maior parte
E para os pobres um reles salamim.
Toda a minha casa era austeridade
Com côdeas de pão numa estreita mesa
E os senhorios com toda a qualidade
Usufruíam da maior riqueza.
Em todo o lado tiravam o chapéu
Quando os senhores iam para a igreja
E a nós, pelos caminhos, de pés-ao-léu,
Crescia-nos na alma amarga inveja.
Ó negra vida e ó contradições,
Ó destino e paciência que nos iludem,
Já que pros ricos sobram exaltações
A nós, que Todos os Santos nos ajudem!
Frassino Machado
In CANÇÃO DA TERRA