CADA RASA UM SALAMIM

“Tributo de Todos os Santos”

«Dedicado a Augusto Oliveira»

Ó belos tempos, mas ó triste fadário,

Tributo social qu´ era mesmo assim,

Pros ricos, farta rasa em numerário

E para os pobres, um reles salamim.

Os tempos que eu vivi e acompanhei,

À sombra tutelar do sor vigário,

Nem quero lembrar a vida que passei

Ó belos tempos, mas ó triste fadário.

A seguir à vindima vinham os Santos,

O alarme dos senhorios era coisa ruim,

As contas e os débitos eram tantos -

Tributo social qu´ era mesmo assim.

Nós, os pobres, só tínhamos trabalho

O suor do rosto e a cruz para o calvário,

A chuva e a neve e um fraco agasalho

Pros ricos, farta rasa em numerário.

Uns gozavam a vida com toda a arte

Outros viviam a sofrer até ao fim;

Pros ricos, destinada a maior parte

E para os pobres um reles salamim.

Toda a minha casa era austeridade

Com côdeas de pão numa estreita mesa

E os senhorios com toda a qualidade

Usufruíam da maior riqueza.

Em todo o lado tiravam o chapéu

Quando os senhores iam para a igreja

E a nós, pelos caminhos, de pés-ao-léu,

Crescia-nos na alma amarga inveja.

Ó negra vida e ó contradições,

Ó destino e paciência que nos iludem,

Já que pros ricos sobram exaltações

A nós, que Todos os Santos nos ajudem!

Frassino Machado

In CANÇÃO DA TERRA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 06/10/2016
Reeditado em 06/10/2016
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