JARDILINO À BEIRA-MAR
Homenagem a Wilson Aragão, descobridor de Jardilino Satanás
I
Quase meia-noite numa encruzilhada
Jardilino foi visto com uma galinha
Garrafas de cana e uma cuia de farinha
Preparando uma farofa bem amanteigada
Dizia muito nome, fazia presepada
Prometendo que um dia iria se casar
E a noiva escolhida era Iemanjá
A bela rainha dos rios e oceanos
Que há muito tempo habitava seus planos
Viver de galope na beira do mar.
II
Quando Jardilino deixou Piritiba
Sumiu no buraco de uma fechadura
No dia em que foi brigar na Prefeitura
Por uma bolada perdida em biriba
Muita gente lá ficou na pindaíba
Sem mais holerite para penhorar
Mestre Jardilino pôs-se a viajar
Foi visto agarrado com uma sereia
Comendo com ela uma cuia de aveia
Cantando galope na beira do mar.
III
Mordido de gente, curado de cobra
Jardilino conta causos do Sertão
Diz que foi amigo até de Lampião
E nunca curvou-se a nenhuma manobra
Coragem o seu povo sempre tem de sobra
Quem duvida disso é só provocar
O povo não é besta, só finge aceitar
Tanto desaforo, tanta indiferença
Por isso é que ele não larga sua crença
Cantando galope na beira do mar.