TABELIÃO SEM REGISTRO
Daniele sempre línea,
Marcava planos sem prazo, e aspas sem dono.
E de vivo, sem ver, nada se queria,
E quando viu, escrevinhou no rapaz cretino, seu Outono:
“Ela sabia que se podia viver mais do que 30, num corpo de 18’,
Mas será que poderia viver outros trinta sem gastar todo seu tesouro em tinta?”
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Tantas palavras sem dono, e eu fui ser inquilino.
Tomar emprestado o levar arrastado,
E despojar-me dos textos de aluguel atrasado.
Quem me manda ser um “errante” tão andino?
E assinar em aspas o de tantos; E recrimino!
Onde já se viu, a liberdade não me presentear com o Ser-livro,
E gostar tanto de por a ferros a preguiça de seus peregrinos?
Um ser de andar privado precisa de olhos de Vidro!
[…]
Lhe falei de algo mais, o que é marca da literatura;
Mas a escrita me é envolvente,
E o recalque ironiza a fome da infinita criatura.
De tão egoísta e servil, a que era blasé tortura,
Agora em forma de preguiça;
Uma assinatura tão fora de altura.
Tabelião sem Registro - Hernâni Arriscado