OS POMBOS E OS PARDAIS

“Ao modo de epigrama”

Dois velhos amigos brigaram

À custa da pombalhada

Que em teses argumentaram

Numa verdade encartada.

Um, diz que os pombos são peste

Que pela urbe se instalaram,

E por falta de quem conteste

Dois velhos amigos brigaram.

O outro, em sinal oposto,

Propõe pardais à molhada,

Criticando a contragosto

À custa da pombalhada.

Um e outro lá têm razão

São pestes, mas concordaram

Com uma arguta convicção

Que em teses argumentaram.

Os pombos são epidemia

Os pardais reles cambada

Uns e outros fazem razia

Numa verdade encartada.

E há pombos e há pardais,

Num sentido bem mais lato,

Políticos e outros que tais

Há-os por aí ao desbarato.

(Como os pombos, se sustentam

Surripiando pedacilhos,

Como os pardais, se contentam

Bicando os primeiros milhos).

Nas cidades ou nas aldeias,

Como entidades malquistas,

Pavoneiam-se com as ideias

Numas cenas nunca vistas.

A uns, subtraia-se-lhes o pão

E os talentos que já são poucos,

A outros p´ lo sim, p´ lo não,

Façamos-lhes ouvidos moucos…

E assim, por esta contenda,

Cada dia o seu embaraço:

Querem que o povo os entenda

E eles só … a marcar passo!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 31/03/2016
Reeditado em 31/03/2016
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