OS POMBOS E OS PARDAIS
“Ao modo de epigrama”
Dois velhos amigos brigaram
À custa da pombalhada
Que em teses argumentaram
Numa verdade encartada.
Um, diz que os pombos são peste
Que pela urbe se instalaram,
E por falta de quem conteste
Dois velhos amigos brigaram.
O outro, em sinal oposto,
Propõe pardais à molhada,
Criticando a contragosto
À custa da pombalhada.
Um e outro lá têm razão
São pestes, mas concordaram
Com uma arguta convicção
Que em teses argumentaram.
Os pombos são epidemia
Os pardais reles cambada
Uns e outros fazem razia
Numa verdade encartada.
E há pombos e há pardais,
Num sentido bem mais lato,
Políticos e outros que tais
Há-os por aí ao desbarato.
(Como os pombos, se sustentam
Surripiando pedacilhos,
Como os pardais, se contentam
Bicando os primeiros milhos).
Nas cidades ou nas aldeias,
Como entidades malquistas,
Pavoneiam-se com as ideias
Numas cenas nunca vistas.
A uns, subtraia-se-lhes o pão
E os talentos que já são poucos,
A outros p´ lo sim, p´ lo não,
Façamos-lhes ouvidos moucos…
E assim, por esta contenda,
Cada dia o seu embaraço:
Querem que o povo os entenda
E eles só … a marcar passo!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA