UNS MORRENDO, OUTROS GOZANDO

I

Não havia um avião

Na base da Força Aérea:

Restou a fila de espera

E a dor da aflição.

Para buscar coração,

Não tem avião voando;

Pra passear em Orlando,

Sobra avião voador,

Deputado e senador,

Uns morrendo, outros gozando.

II

Quando o senador sentiu

Que lhe faltava cabelo,

Requisitou sem apelo

E o jato logo subiu,

Fez implante de bombril

E, quando estava voltando,

Parou em casa, embromando,

Rindo da cara da gente,

Depois voltou sorridente,

Uns morrendo, outros gozando.

III

O menino Gabriel

Está em Minas Gerais,

Dando suspiros e ais,

Batendo à porta do Céu,

Vítima do sistema incréu

Que vive nos esfolando,

A nossa renda tomando

Para bancar mordomia

E o povo na agonia:

Uns morrendo, outros gozando.

IV

Se um ministro tem saudade

Da comidinha caseira,

Enjoado das rameiras,

Já embarca sua beldade,

Dá rasante na cidade,

Vaidoso, se mostrando,

E o povo besta, olhando,

O raio da silibrina

Só gastando gasolina,

Uns morrendo, outros gozando.

V

Uma nobre parlamentar

Resolveu ter o peitão:

Se montou no avião

Desse sistema exemplar,

Aprumou o tacacá

Que ele ficou apontando,

Veio com a turbina furando,

Quase não pousa em Brasília,

Leite bom é de novilha,

Uns morrendo, outros gozando!

Miguezim de Princesa
Enviado por Miguezim de Princesa em 18/01/2016
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