UNS MORRENDO, OUTROS GOZANDO
I
Não havia um avião
Na base da Força Aérea:
Restou a fila de espera
E a dor da aflição.
Para buscar coração,
Não tem avião voando;
Pra passear em Orlando,
Sobra avião voador,
Deputado e senador,
Uns morrendo, outros gozando.
II
Quando o senador sentiu
Que lhe faltava cabelo,
Requisitou sem apelo
E o jato logo subiu,
Fez implante de bombril
E, quando estava voltando,
Parou em casa, embromando,
Rindo da cara da gente,
Depois voltou sorridente,
Uns morrendo, outros gozando.
III
O menino Gabriel
Está em Minas Gerais,
Dando suspiros e ais,
Batendo à porta do Céu,
Vítima do sistema incréu
Que vive nos esfolando,
A nossa renda tomando
Para bancar mordomia
E o povo na agonia:
Uns morrendo, outros gozando.
IV
Se um ministro tem saudade
Da comidinha caseira,
Enjoado das rameiras,
Já embarca sua beldade,
Dá rasante na cidade,
Vaidoso, se mostrando,
E o povo besta, olhando,
O raio da silibrina
Só gastando gasolina,
Uns morrendo, outros gozando.
V
Uma nobre parlamentar
Resolveu ter o peitão:
Se montou no avião
Desse sistema exemplar,
Aprumou o tacacá
Que ele ficou apontando,
Veio com a turbina furando,
Quase não pousa em Brasília,
Leite bom é de novilha,
Uns morrendo, outros gozando!