Mote
Eu já estou de saco cheio
De tanto votar perdido
Não quero eleger bandido
Pra botá-lo em nosso meio
Já me causa até receio
Em votar num Zé Ninguém
Que quando recebe o bem
Esquece o bom eleitor
Eu já lhe disse doutor:
não voto mais pra ninguém
Seu doutor tenha cuidado
Que a boca agora esta quente
O cidadão consciente
Não irá votar errado
Se o senhor for deputado
procure ajudar a quem
Neste mundo nada tem
Mas já votou no senhor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Meu conselho social
É para a classe política
Que merece a minha crítica
Neste mote genial
O cidadão pontual
Precisa pensar também
Prá nunca eleger alguém
Que não merece pudor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Seu doutor preste atenção
que o nosso pobre eleitor
Que mora no interior
Não muda de posição
Mas o filho do barão
Esse fica mais além
Enquanto o pobre não tem
Liberdade e nem valor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Trinta e seis anos votei
Neste regime selvagem
Uma tremenda miragem
Como sempre imaginei
nunca mais eu votarei
Em gente que não convém
Já me cansei de desdém
De sofrimento e terror
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Depois de tanto falar
No regime sem lisura
Eu não quero ouvir censura
De quem não sabe votar
Apenas eu quis provar
Ao brasileiro de bem
Que por pequeno vintém
Eu não troco meu penhor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Como eleitor consciente
Falei com sinceridade
Da tosca infelicidade
Que o voto traz para gente
Nem mesmo pra presidente
Pretendo dizer-lhe amém
Nem o Cristo de Belém
Faz eu votar com amor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém
Tenho pensado comigo
Que tamanha baboseira
Eu votar a vida inteira
Em quem só me deu castigo
Posso atender um amigo
Pra ser chefe de um harém
Ou votar num palafrém
Menos votar no senhor
Eu já lhe disse doutor:
Não voto mais pra ninguém