Vida no sertão
Galope a beira mar
Quando eu morava no interior
Com minha família sem nenhum emprego
Eu via meu pai sem nenhum sossego
Contando as moedas de pouco valor
Triste porque o feijão não vingou
E como ele ia a mim sustentar
Não tinha dinheiro não ia pagar
Aquela bodega que a nós vendia
Ai começava aquela agonia
De sair correndo pra beira do mar.
A seca malvada acabava tudo
Morria cavalo jumento e galinha
Minha mãe ficava dentro da cozinha
Olhando a panela e meu pai barbudo
Falava com ele, ele sempre mudo
Pensando na hora da gente almoçar
Não tinha a carne para misturar
Só tinha feijão farinha e torresmo
E eu vendo meu pai andando a esmo
Nos dez de galope na beira do mar
Não tinha energia não tinha banheiro
Não tinha internet nem casa bonita
A família toda sempre bem aflita
Conta pra pagar sem ter o dinheiro
Não tinha escova nem água de cheiro
Não tinha caderno para estudar
Nem o telefone para eu ligar
Para a família na grande cidade
Que vida tirana de infelicidade
Nos dez de galope na beira do mar.