BRASILBÓLIA 23, CANIBAL À SOLTA
“Réplica a Heloísa Crespo, à laia de glosa”
Heloísa:
…
“Talvez fosse bem mais certo,
Fazer parte do castigo,
Um severo tratamento,
Durante um tempo num ‘abrigo’
Que cuide de gente assim
Que vê no outro um inimigo.”
Frassino:
Quem se havia de lembrar
Pôr a nu pecados velhos
Usar dentais aparelhos
E, qual fera, abocanhar.
Nem para ele foi esperto:
Morder humano costado
Naquela hora a céu aberto
Foi a mais bizarra ideia.
Era meio caminho andado
Que, indo parar à cadeia,
Fosse o mais lógico e certo.
Memorando a lei da selva
E o tempo da lascada
Como uma fera malhada
Devia agarrar-se à relva.
Mas, coitado, qual mendigo,
Não sabendo o que fazer
Nem tendo nada a perder
Sujeitou-se ao vil castigo
De comer carne grudada,
Sem estar bem temperada,
Desconhecendo o perigo.
Sem medir a consequência
Confundiu o jogar da bola,
Com os pés ou com a tola,
E, perdendo a paciência,
Foi-se a ele, recalcitrou
E logo ali o abocanhou.
O juiz, considerando a insânia,
Deste ousado pé-de-vento
Nem duas vezes pensou
Fez severo tratamento
De uma forma espontânea.
O povo, não fazendo festa,
Colou a isto alguma graça
E temendo outra desgraça
Achou bem prender a besta.
Tirem daqui esse perigo
E levem-no açaimado
Deste tão verde gramado.
Durante um tempo no “abrigo”
Depois deste quadro raro
Olhará pro seu umbigo
Passando noites em claro.
Melhor que a sua prisão
Só se for um manicómio
Onde, junto com o demónio
Aprenderá nova lição.
Demonstra-se que a energia,
Sendo bem direccionada
Poderá ser aproveitada
E a partir da alforria,
Deveria haver, quanto a mim,
Capataz ou algum vigia,
Que cuidasse de gente assim.
Vai-se arrastando o Mundial
Permitindo de tudo um pouco
Neste mundo, assaz bem louco,
Que até lembra um carnaval.
Se houvesse solicitude
Nesta coroa sem jóia
Por consenso ou por virtude
Acabar-se-ia a paranóia.
E do vil crime e castigo
Matando a feroz jibóia
Não haveria mais inimigo.
Frassino Machado
In A MUSA DOS ESTÁDIOS
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