Galope À Beira Mar

Nas águas tão turvas como uns despautérios

Insanos cardumes vão vociferando.

Uníssonos gritam quase suplicando

Aos homens que lancem os seus impropérios.

À noite é o luar que esconde os seus mistérios,

Sentado na areia eu fico a contemplar

Buscando a canção que vem do marulhar

Que toca e acalenta centenas de ouvidos

Mas passam silentes pelos meus sentidos

E eu canto um galope na beira do mar.

As ondas dementes arrastam os seres

Que vagam sem vidas quando esterilizam

Feridas abertas que não cicatrizam,

Mas nascem no cerne dos tolos prazeres

Povoando o meu ego almejando os poderes

De um dia sobre as águas poder passear,

Ser como o vento, poder velas soprar

E o mar não passará de um rio profundo.

E eu vou decifrando os segredos do mundo

Cantando um galope na beira do mar.

De longe só ouço mais um eco escabroso

Do vento que sopra na beira do cais

Tangendo bravio as brisas matinais

Criando as procelas do mar tenebroso.

Distante um navio parece assombroso

Nas grandes tormentas que fingem cessar

E as belas sereias começam cantar

Causando desgraças pra lá de insolúveis

Até inebriar certas ondas volúveis

Nos dez de galope na beira do mar.

O mar adormece, controlam-se os medos

E a brisa retorna acalmando as marés.

Na beira eu passeio molhando os meus pés,

Tecendo na areia meu linho de enredos.

O meu tino revela os insanos segredos,

Requintes que a mente insiste em cultivar

E a musa gestante deixou de esperar

O que foi gerado com dor e alegria,

Nasceu uma filha chamada poesia

E o pai é Netuno senhor desse mar.