SEM RIMA 123.- ... cantando amores ...
Acabei de preparar para lusófonos a edição de textos do Biqueira (Johán Vicente Viqueira ), filósofo, ativista cívico, nacionador galego. A edição talvez seja dada a lume no próximo mês de junho.
Esse trabalho obrigou-me a reler atento e a comentar mormente os seus poemas, escassos, mas de muito interesse para os galegos e, em geral, para os lusófonos preocupados com a fraternização de todos os diversos e divergentes usuários do português comum.
Biqueira talvez seja o primeiro (e brevíssimo) poeta cultivador do neotrovadorismo na Galiza.
Que e qual seja o "neotrovadorismo"?
Eis uma suficiente descrição desse irregular (na Galiza) movimento literário, segundo é dada na wikipédia:
"O 'Neotrabadorismo' ('Neotrovadorismo') foi uma manifestação poética que surgiu na Galiza por volta de 1930. Seu surgimento ocorre após a difusão da lírica medieval galaico-portuguesa, através da edição comentada de José Joaquim Nunes.
"Nesta corrente recriam-se temas amorosos similares às cantigas de amigo e de amor, com recursos formais (paralelismo, refrão, leixa-pren…), e ambientes (paisagens primaverais, fontes, mar, rios…). Sobretudo influi a cantiga de amigo.
"Entre os autores significativos do Neotrobadorismo figuram:
"Johán Vicente Viqueira: 'Poemeto da Vida', 1919 (mas inédito até 1930), que retoma elementos específicos do cancioneiro de amigo.
"Fermim Bouça Brey: 'Nao senlleira' (1933) e 'Seitura' (1955)
"Álvaro Cunqueiro: 'Cantiga nova que se chama ribeira' (1933) e 'Dona do corpo delgado' (1950).
"Xosé María Álvarez Blázquez: 'Poemas de ti e de min', 1949 [com o irmão Emilio Álvarez Blázquez].
"Embora alguns analistas da história da literatura galega situem o Neotrobadorismo entre os movimentos de vanguarda, apenas num sentido lato é possível manter este posicionamento, considerando os textos que se podem incluir nesta tendência. Assim, os primeiros textos neotrovadorescos surgem como um simples afã de recriação da lírica medieval galego-portuguesa - de certos elementos desse lirismo- ou ainda como uma homenagem a esse passado excepcional na história cultural da Galiza."
Eis a primeira parte do poema viqueirano:
Vinde, amigas, da beira, às frondas
e banhar-nos-emos nas ondas,
cantando amores;
Vinde, vinde, no alveio do dia,
quando no céu alto sobe a cotovia,
cantando amores;
Vinde, amigas, na beira do mar
com infinita sede de amar,
cantando amores;
Santificar a vida entre bruma
envolveitas de florida escuma,
cantando amores.
....................
Suspeito muito seriamente que tenho pouco de neotrovador. Mas, quem sabe se fazendo um pequeno esforço... Tentarei:
Cantando amores, mãe,
achei amor alveiro:
alveiro e cantador
achou-me, mãe
Ondas roubam, mãe,
meu amor à alva:
à alva as ondas
roubam, mãe
Espuma abraça, mãe,
meu corpo triste:
triste e sedento
abraça, mãe