AUDÁCIA / CONSELHO / NUDEZ

AUDÁCIA I (2008)

"Audacia sua nautae patriam salvaverunt

ac poeta nautarum victoriam laudavit."

-- Valente

Se sabes teu valor, insiste agora!

Quem desiste do amor perde sua hora

Quem teme o próprio odor vê ir-se embora

Quanto reuniu com dor no seu outrora.

Se sabes o que queres, faz e luta;

se temes o que esperes, sempre escuta

na vida teus lazeres: sorte bruta!

atrasam teus misteres: tua conduta.

Portanto, não te leve a depressão;

somente a raiva inscreve ao coração;

quem vencer sempre deve a opressão,

aceitar nunca teve qualquer escravidão.

AUDÁCIA II (10 ago 11)

Mas quem rege tua vida é dom traiçoeiro:

levar-te-á de vencida bem ligeiro;

na luta mais renhida é cavaleiro,

para cortar tua lida bem certeiro.

Portanto, te precata e te previne:

a morte não tem data em que se fine;

o fado não acata que destine

a flecha que te abata e te assassine.

Resistir sempre é possível à doença;

explorar assim é crível a mata densa;

enfrentar é factível a malquerença

quase tudo é exequível a quem pensa.

AUDÁCIA III

E quando o inimigo parece ser mais forte

e a paz do teu jazigo a negra morte,

encontras braço amigo que te aporte,

ao se alinhar contigo, melhor sorte.

E no final, que importa? A vida é ilusão,

pois rápido se corta a exaltação,

igual que se comporta a pior desilusão;

até o tédio aborta e chega a conclusão.

Percebe que a incerteza não poderá ferir,

que sua abstrata presa não passa de iludir,

ante a maior vileza aprende pois a rir

na cara da tristeza, ou, ao menos, a sorrir...

conselho I (2008)

são quimeras

que te acordam bestas-feras

no coração

pois são desejos mas não ensejos

os mil animalejos

de teu pulmão.

e daí, se respiro amor e chama?

se quando te percebo, num delírio

eu sinto as veias a ferver, martírio

que tudo pode ser menos a flama

que se agita volúvel em que ama

e se queima lentamente, feito um círio,

enquanto o pranto escorre qual colírio

e as faces se derretem como escama?

pouco me importa sejam só quimeras

as bestas-feras dessas priscas eras.

pouco me importa sejam só desejos,

falsos ensejos de falazes beijos.

somente importa que te veja nua

na prata sólida que te veste a Lua.

conselho II (11 ago 11)

são parcelas

nesse combate do brilho das estrelas

tem variedade manha e saudade

longa vaidade

não mais que velas,

dores singelas.

se te falo de amor, no meu passado

eu já amei com pudor e violência,

já amei por conquista e por paciência,

nas mil nuances do dom atribulado.

se te falo de amor, já fui amado

ou repelido, em gesto de impaciência

ou repeli eu mesmo, por prudência,

já rejeitei, também fui rejeitado.

se te falo de amor, já conheci

as mil facetas dessa Lua triste.

os mil detalhes doces da aflição,

ganhei amores, amores eu perdi.

mas dentro ao peito, firme, ainda persiste

a semente virescente da paixão.

conselho III

são exteriores

os sentimentos que teu peito roem

de solidão

ou vêm de fora ou vêm do outrora

os mil escaravelhos

de tua paixão.

se falo hoje de amor, não te aconselho.

o bom conselho só te vem do próprio peito.

ele é sincero contigo e sem defeito

e teus desejos reflete como espelho.

a mente empurra firme um outro relho,

para indicar caminho mais direito

e teu espírito se mostra contrafeito

a cada vez que repetes o erro velho.

mas o conselho não deve vir de fora

são outras luzes a te iluminar.

pois quem por ti possui maior calor

que a própria alma alçada nessa hora?

e teu desassossego só se irá acalmar

na chama acesa por teu próprio amor.

NUDEZ I (13 AGO 11)

Já percebi que embora se apreciam,

nunca se louva particular beleza

na formação dos órgãos genitais.

Talvez porque tocados, mal se viam,

nessas carícias de lenta profundeza,

na escuridão solerte do jamais.

Porém lembro quantas vezes a uma flor

foi o órgão feminino comparado,

como a esse cofre assim tão desejado

chamou-se rosa e a rosa foi amor.

Ou com o cravo o masculino ardor,

tal qual espada de carne revelado,

na bainha da flor emoldurado,

morre na teia do órgão sedutor!...

NUDEZ II

Embora saiba que os poetas mais malditos

também louvaram o pênis e a vagina,

em versos mais ou menos escabrosos.

Só que hoje em dia, até os mais aflitos

dos excluídos, no cinema ou pequenina

tela de vídeo os contemplam numerosos.

Eu, realmente, já descrevi a flor

em metáforas ou em versos bem diretos,

alvo constante de meus sexuais afetos

seu carmesim vibrante de calor...

E a aprecio, sem qualquer rubor:

de uma nasci à sombra de outros tetos,

outras me deram prazeres bem diletos,

na falta de outras também fui sofredor...

NUDEZ III

O corpo humano é o invólucro da raça

e não deve ser motivo de vergonha,

durante o tempo breve do apogeu,

da biologia mostrando a plena graça.

Só o disforme a escondê-lo sonha,

pela saudade do belo que perdeu.

Não há razão para que seja diferente

da exposição dos órgãos femininos,

(salvo que haja motivos fesceninos),

embora feios para muita gente...

E não me causa nojo, francamente,

essa visão dos órgãos masculinos,

mostrados muitas vezes pequeninos,

como desculpa à exibição frequente.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 20/08/2011
Código do texto: T3172049
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