O mar pode esperar

"Cansado de navegar,
deixo meu barco na praia."
(Ronaldo Rhusso)


No horizonte, o sol declina,
a noite já vai chegando,
a luz da lua dourando
o mar ornado em neblina.
Quando o luar ilumina
a onda que o vento espraia,
e antes que a tarde caia,
então retorno do mar.
Cansado de navegar,
deixo meu barco na praia.

O barco, agora ancorado,
após tremenda labuta,
parece que ainda escuta
as ondas e o balançado
do pescador, em gingado
Inda ao balanço do mar,
cansado de navegar.
Deixo meu barco na praia,
me afasto e, antes que eu saia
esguelho um último olhar.

Deixo o barco devagar,
como quem já não tem pressa.
O mar já não me interessa.
Volto ao recanto do lar,
cansado de navegar.
Deixo meu barco na praia
a me esperar, noutra raia
em outro dia de sol.
Logo cedo, no arrebol,
minha amada faz que eu saia.

O vento fica em tocaia
e longe eu ouço o cantar:
"Cansado de navegar,
deixo meu barco na praia".
Eu tanjo o vento da raia
e navego nos lençóis
da minha amada, só nós
na escuridão do meu lar.
Na noite, um belo luar
ilumina a nossa voz.

Cansado de navegar,
deixo meu barco na praia
e volto ao amor, à saia,
em outro adeus. O alto mar
me espera e pode esperar.
O barco descansa um pouco
enquanto eu retorno, louco
de amor, pra mais um adeus.
Ela cai nos braços meus
a emitir sussurro rouco.