Dois olhos cheios d’água
“Uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água”
(Antonio W. de Siqueira, “Passado”)
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Eu trago nas mãos a fé
de viver vida melhor
com muita gente ao redor
pois a solidão não é
o que procuro. Eu até
ainda curto essa mágoa;
ainda comigo trago,
a dividir o meu leito,
uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água.
É uma luta sem fim,
um desperdício medonho,
a vida com tanto sonho
e eu tão tristonho assim.
Mas não respondo por mim,
mesmo que traga, sem jeito,
uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água
a formar enorme lago,
a molhar todo meu leito.
Na solidão me sujeito
a não ter inspiração,
viver sem muita razão
esse meu sonho imperfeito.
Uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água
acompanham quando eu trago,
a pulsar, meu coração,
com toda a desilusão
que dentro de mim deságua.
Não sou feliz quando afago
a solidão desse jeito.
Uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água
ainda lembram a mágoa,
a dor cruel que não traz
um minuto só de paz
e faz o meu coração
viver a desilusão
que cresce cada vez mais.
Uma dor dentro do peito
e dois olhos cheios d’água,
a trazer um gosto amargo,
a me deixar contrafeito,
a não me atender o preito
a que tanto me empenhei.
Esta solidão, eu sei,
irá rondar minha vida
e manter viva a ferida
em meu peito. Esta é a lei.