Um desejo irracional
Em minha mesa de trabalho tem uma plantinha. De um verde vivo com caules finos e longos traz-me um pouco da natureza em minha sala fria. Percebi que entre as folhas espalmadas tem uma que se destaca no centro. Ela é diferente. Não espalma seu verde como as demais. Olha para cima. Aponta para o alto. Percebe-se que as demais se afastam. É orgulhosa. Envaidece-se de sua altura. Nariz empinado querendo sobressair-se. Destaca-se. É mais verde, mais viva, soberba e bela. Dirijo meu olhar só para ela que parece me chamar:
- Minha folha querida que me olha de teu lago refrescante convidando-me a banhar-me consigo. Olha-me gloriosa com teu corpo esguio e tuas faces voltadas para meus olhos. Encurva-se tentando excitar-me. Provoca-me. Faz meu corpo esquentar. Traiçoeira mulher da natureza viva. Mexe-me com fervor. Teu perfume me chega como um elixir afrodisíaco que entorpece. Sinto o torpor da sedução. Envolve-me o cheiro do desejo. Dispo-te com os olhos querendo ver tuas formas cativantes de um corpo aconchegante. Minha pele queima. Meu sangue esquenta. Meus pensamentos desaparecem. O torpor toma-me conta. Teu perfume está no ar. Sinto teu cheiro provocante e cativante. A fascinação em meu olhar tira-lhe o resto da roupa que cobria teus seios e teus ombros. O teu encanto me domina, assoberba-me. Teu feitiço envolve-me os sentidos perdendo o chão sob os meus pés. Um vôo delicioso que me faz lançar-me ao espaço. Excita-me até as entranhas. Desejo-te.
Voltei. Novamente sentado em minha cadeira à mesa de trabalho. A plantinha continua imóvel e inerte à minha frente. Grato minha plantinha. Obrigado por essa viagem que me destes logo de manhã.