O Direito à Preguiça - trechos escolhidos

LAFARGUE, Paul. "O Direito a Preguiça". 1883. Ensaio, 32 páginas.

Trechos:

A moral capitalista, lamentável paródia da moral cristã, fulmina com o anátema o corpo trabalhador; toma como ideal reduzir o produtor ao mínimo mais restrito de necessidades, suprimir as suas alegrias e as suas paixões e condená-lo ao papel de máquina entregando trabalho sem tréguas nem piedade.

Cristo pregou a preguiça no seu sermão na montanha: Contemplai o crescimento dos lírios dos campos, eles não trabalham nem fiam e, todavia, digo-vos, Salomão, em toda a sua glória, não se vestiu com maior brilho.6 Jeová, o deus barbudo e rebarbativo, deu aos seus adoradores o exemplo supremo da preguiça ideal; depois de seis dias de trabalho, repousou para a eternidade.

Aristóteles previa que "se cada utensílio pudesse executar sem intimação, ou então por si só, a sua função própria, tal como as obras-primas de Dédalo se moviam por si mesmas ou tal como os tripés de Vulcano que se punham espontaneamente ao seu trabalho sagrado; se, por exemplo, as lançadeiras dos tecelões tecessem por si próprias, o chefe de oficina já não teria necessidade de ajudantes, nem o senhor de escravos".

O sonho de Aristóteles é a nossa realidade. As nossas máquinas a vapor, com membros de aço, infatigáveis, de maravilhosa e inesgotável fecundidade, realizam por si próprias docilmente o seu trabalho sagrado; e, no entanto, o gênio dos grandes filósofos do capitalismo continua a ser dominado pelo preconceito do salariado, a pior das escravaturas. Ainda não compreendem que a máquina é o redentor da humanidade, o Deus que resgatará o homem das sórdidas artes e do trabalho assalariado, o Deus que lhe dará tempos livres e a liberdade.

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TOFLER, Alvin. "A terceira onda". Rio de Janeiro: Record, 1980.

Trechos:

* currículo "encoberto": pontualidade, obediência, trabalho maquinal (repetitivo)

* as maiores bênçãos: vida, liberdade, educação

* número de correspondências domésticas por ano --> nível de industrialização

* "Manifesto Comunista": "..., tudo foi manchado ou corrompido pelo interesse comercial"

* quanto mais alto for o índice do tempo de viagem em relação ao tempo de trabalho, mais irracional, frustrante e absurdo se tornará o processo de ir e voltar

02/03/02

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"O Direito à Preguiça" conta, ou denuncia, que, no início da Revolução Industrial, disseminou-se a opressão e a crueldade imposta aos operários de fábricas, que trabalhavam sob péssimas condições durante mais de doze horas por dia. Além das mortes prematuras e da superprodução de bens, esse modo de produção desenfreada gerou poluição, desgastes econômicos e políticos e o caos da época que a História nos conta.

O "Direito à Preguiça" é uma proposta que ajudaria a economia a se desenvolver juntamente com as pessoas. Hoje em dia, estudos acadêmicos e pesquisas práticas indicam que a redução das jornadas de trabalho mantém a produtividade e melhora a qualidade de vida dos trabalhadores. Além disso, libera tempo para que o antes apenas trabalhador torne-se também consumidor de produtos e serviços relacionados ao lazer, turismo, cultura, o que torna também a economia mais diversificada, com oportunidades de variedade de serviços e de fruição dos serviços por todos. Como exemplo, eu mesma trabalho como Analista de Sistemas em um banco de desenvolvimento. Meu emprego é de seis horas diárias, 30 horas semanais. Essa carga horária permite que eu me dedique ao ensino e pesquisa, leitura, idiomas, fotografia, minhas outras atividades produtivas, consumidoras e muito mais prazerosas!

Hoje em dia, muitas tarefas repetitivas, "burras", que não exigem o uso do cérebro humano, são realizadas por pessoas pobres, sejam compatriotas rejeitados, sejam imigrantes, sejam chineses ou taiwaneses semi-escravos. Para mudar essa realidade, é indispensável a educação, uma formação de qualidade, seja de nível técnico, seja de nível superior, com acesso a todas as camadas da população. Com isso e com a automatização cada vez mais presente nas indústrias, nos serviços e mesmo nas atividades domésticas, prevejo que, como já profetizado por pensadores, sociólogos, analistas de tecnologia, futurólogos, como Alvin Tofler, a utilização de máquinas para os serviços repetitivos domésticos e industriais vai liberar - ou mesmo induzir - os humanos para a realização profissional com o pleno emprego de suas faculdades criativas ao exercer atividades de trabalho e prestação de serviços que realmente lhes sejam prazerosas. Bah, seria maravilhoso ter uma "Rose" (a robô-doméstica do seriado "Os Jetsons") como secretária em casa!

26.02.2008