UMA ABORDAGEM SOBRE O ESCRITOR E SUAS CRIATURAS

Escrever é sempre a ruptura de uma moeda de duas faces, as emoções próprias do autor e o caráter de suas criações. A razão dita, o coração distorce; a alma tenta controlar a narrativa, a mente se revela. Nessa luta entre a vivência do escritor e a imaginação inspiradora, as duas se misturam, ambas se entrelaçam. Nunca parece fácil dissociar a realidade da ficção, um pouco da experiência de quem escreve transparece nas obras de sua autoria.

Partamos do princípio de que a capacidade literária de alguém, se bem seja nata, não evolui sem o respaldo, o suporte especial da leitura intensa dos clássicos e do contemporâneos, por conseguinte precisa ser lapidada, desenvolvida. Além disso e muito mais, a observação das pessoas com seus jeitos, trejeitos, atitudes, gestos e as aventuras por que passam contribuem como fator determinante, aliado aos vividos pelo escritor, para as ideias colocadas nos textos.

Reflito que talvez inexista alguma obra da literatura sem um ou mais toques individuais sacados de momentos existenciais e emocionais da vida dos idealizadores do conteúdo. Pensar o contrário, a meu ver, seria considerar a criação insensível e desprovida de vida, de possibilidades pragmáticas. À guisa de não ter um criador, de haver nascido do vácuo.

Óbvio que esta inflexão sobre assunto tão vasto deveras não retrata verdade absoluta, ninguém pode arrogar-se proprietário desse sofisma. Trata-se somente de pensamentos aleatórios no tocante à suposta possibilidade de conectar os caminhos, dúvidas e emoções pelas quais o escritor passou com tudo que ele escreveu. Poderia o criador ser totalmente diferente de suas criaturas, sem deixar modestos resquícios do próprio viver? A questão esvoaça no ar, suscita lógica e gera desobramentos.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 16/10/2024
Reeditado em 17/10/2024
Código do texto: T8175260
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