Manifesto fantasma

É como se eu fosse um fantasma para este mundo. Como se eu não estivesse aqui. Nunca estive, nunca estarei. Eu sou uma alma mortal. Caminhando à beira de estradas de um mundo vago e amplo. E mesmo na presença de pessoas e na presença de eu mesmo, ele continua sendo um claro deserto.

Não há caminho de eu machucar a natureza com o meu olhar e a minha voz, por isso eu sou um constante silêncio. Por isso eu estou sempre partindo. E nos momentos de maior desespero e maior desolação, estou sempre passando... E nos momentos de maior alegria e maior perfeição, eu estou apenas observando.

Eu tenho apenas um olho e só olho para frente e constantemente ao meu redor como uma caixa de música. Eu não detenho o menor olhar sobre as coisas, e esse é o meu respeito por elas: tudo está para sempre sendo, então deixe ser.

Tudo é muito maior que eu. Os ossos são a única coisa que tem valor em mim. O resto é perecível, é estar de passagem, é fazer o que precisa da forma que pode em qualquer lugar, não ser percebido, dormir na calçada, arranjar um meio de conseguir comida. E nunca, nunca ser persuadido que se é mais que um fantasma.

Cada pensamento eu escrevo, não no papel, mas na memória do universo. Cada singularidade brilhará em algum momento. Converso por telepatia com as outras almas.

(Lugares desconhecidos são mágicos.)