DO CONTO E DA CRÔNICA
Um dos grandes causadores de confusão na mente do escritor autodidata iniciante é a classificação dos gêneros fronteiriços, aqueles cujos limites podem parecer (con)fundir-se, aqui e acolá, feito, por exemplo, a crônica e o conto. É comum classificarem-se de forma equivocada ambos os gêneros, dando o nome de conto à crônica e vice-versa. Uma maneira simples de solucionar o problema está na compreensão de que a crônica (os ensaísticos em geral) caracteriza-se pela explanação direta dos pontos de vista do autor, dirigindo-se em seu próprio nome ao leitor ou ouvinte, sem qualquer artifício intermediário. Enquanto a ficção (o drama, a lírica) são narrados desde o ponto de vista da(s) personagem(ns), sendo esse um dos princípios fundamentais da literatura, como deixa-nos claro, o autor e professor de criação literária Raimundo Carrero, logo no início da sua obra "A Preparação do Escritor"; eis o dito:
'É natural que o leitor confunda, quase sempre, o narrador com o autor. E — muito mais ainda — é natural que o autor se confunda com o narrador. Às vezes nem conhece mesmo a diferença. Ou, se conhece, não admite. Acredita-se narrador, envolve-se, joga-se no texto que é seu apenas na aparência, interfere.
Mas há uma verdade absoluta: narrador não é autor. Autor não é narrador.'