(in)te(r)rogo

Ó coração de ninguém

Se para a razão, fingira [ ... ]

Não fingirá

[Também]

A quem o ler saberá?

 

 

AUTOPSICOGRAFIA

 

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

 

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

 

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.

 

Fernando Pessoa

Limaya
Enviado por Limaya em 09/10/2022
Reeditado em 15/10/2022
Código do texto: T7623777
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