Cecília Meireles
O eco reverbera ainda...
No poema findo - lindo:
Cl[amor] de Cecília!
COMO SE MORRE DE VELHICE
Como se morre de velhice ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente
nem de doença,
mas, Senhor,
só de indiferença.)
Cecília Meireles