Cecília Meireles

O eco reverbera ainda...

No poema findo - lindo:

Cl[amor] de Cecília!

 

 

COMO SE MORRE DE VELHICE

 

Como se morre de velhice ou de acidente ou de doença,

morro, Senhor, de indiferença.

 

Da indiferença deste mundo

onde o que se sente e se pensa

não tem eco, na ausência imensa.

 

Na ausência, areia movediça

onde se escreve igual sentença

para o que é vencido e o que vença.

 

Salva-me, Senhor, do horizonte

sem estímulo ou recompensa

onde o amor equivale à ofensa.

 

De boca amarga e de alma triste

sinto a minha própria presença

num céu de loucura suspensa.

 

(Já não se morre de velhice

nem de acidente

nem de doença,

mas, Senhor,

só de indiferença.)

 

Cecília Meireles

Limaya
Enviado por Limaya em 08/10/2022
Reeditado em 12/10/2022
Código do texto: T7623102
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