POETA DE DATA FESTIVA
O poeta ruim presta um desserviço à literatura. Deveria deixar de escrever e se concentrar em ler apenas. Ele acaba traumatizando uma geração de pessoas que poderiam amar a poesia. Com seus versinhos sem imaginação, com visão juvenil do mundo, se presta a louvar cidades, árvores, príncipes encantados e outros gnomos imaginários. Isso acaba passando a imagem que poesia é essa coisa rasa, de aluna apaixonada de oitava série. Poesia não é isso. Poesia é arrebatamento, é perversão, é bomba nuclear, a tudo tem que fazer tremer. Poesia, pelo menos a boa, tem que lidar com o horror, com tudo que corrói, que se contrai. É assombro, é falta de salvação. Não pode ser bibelô de antiquário. Poesia é revolta, é contaminação. Poesia é merthiolate antigo na ferida aberta. É desalinho de qualquer ordem, é um tipo de orgia. Meu repúdio ao poeta de almanaque, ao poeta de flor na lapela, ao poeta-coach, rimando flor de jardim com catequese.