Despede-te agora
Sei que não queres ir embora mas o trem partiu faz meia hora e logo chegará nesta estação.
Neste tempo que te sobra beija a fronte do filho que chora e agradece pelo que aprendeu.
Coloque muito do teu perfume favorito, veste aquele vestido novo que tens guardado e dança a última valsa nem que seja em pensamento.
Não precisa ter medo, nada muda por um tempo e aos poucos reconhecerás teu lugar.
Logo que passe o sono profundo encontrarás aqueles que chegaram antes e que te esperavam para o abraço do reencontro.
Apressa-te!
Já escuto o apito da nave que se aproxima!
Te preocupas as mãos vazias?
Sim, imagino pois carregaste por toda a jornada terrena as sacolas, bolsas, documentos, comida, água e os filhos pelas mãos.
Agora as tem vazias porém apressa-te a dar o último abraço nos que ficam. A hora da despedida chegou.
Entre, acomode-se.
Tranquila olha pela janela. Sim, eles todos estão a chorar pois estás partindo.
Agora tudo é calma, paz e suavidade na alma. Fica ainda a tênue lembrança de uma morada terrena que já não existe mais.
Não posso precisar o tempo que dormirás nem quando nem onde acordarás, porém é sabido que a cada intervalo há uma nova vida sendo preparada pois a nave outra vez regressará.
Há vários intervalos entre uma estação e outra. Uns descem, outros sobem. Há tantos que chegam atrasados e ficam a gritar na estação, mas nunca soube de alguém que descera na estação errada.
Ah! Há tanto para te contar, teremos tempo já que nossa viagem acaba de começar.