O MAIOR RUÍDO FILOSÓFICO E A DOR DO EXISTIR
O MAIOR RUÍDO FILOSÓFICO E A DOR DO EXISTIR
"DEUS ESTÁ MORTO!"
Esta seja talvez a frase do filósofo Frederick Nietzsche das mais conhecidas e incompreendidas do grande público.
Apesar de se colocar frontalmente contra os dogmas religiosos em muitos momentos, sobretudo os de origem "abraamica", esta frase de Nietzsche não se refere a uma negação divina. Mas sim ao estado máximo de ceticismo existencial que o homem pode alcançar, o Niilismo.
É um estado psíquico no qual o indivíduo chega ao mais alto grau de negação da existência e do seu próprio sentido de existir.
Qual a origem da existência? Qual o sentido da vida? Que significado pode haver para tudo isso, se no final a morte é certa para mim? E não só para mim, mas também para todas as coisas que me cercam. Desde esta mesa onde apoio este teclado até mesmo a maior das galáxias... se tudo está fadado ao fim, que importância pode haver nesta minha vida simples e comum? Absolutamente simples e comum entre tantas milhões de pessoas, assim como eu, simples e comuns? E pensando bem, que significado podem ter mesmo os grandes feitos se no fim tudo acaba?
No seu texto Tabacaria, Fernando Pessoa também faz referência a esta visão niislista de mundo:
"...Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo..."...
..."...Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu..."...
As pessoas podem acreditar em algum tipo de deus ou filosofia que tente aplacar de nosso cérebro esta dor de não saber explicar. Mas as perguntas continuarão lá no fundo, trancafiadas, mas latentes.
O fato é que, por conta da nossa racionalidade complexa em comparação com as formas de vida que conhecemos, estas questões são tão fundamentais a nós quanto nossa própria existência. Observar um fenômeno e não saber explicar dá um "bug" na mente humana. Daí criamos nossos folclores, lendas e mitos que dêem sentido ao inexplicável, que arranquem esta farpa, quase física, da nossa racionalidade.
De onde veio o Universo? "Deus criou". O que é o raio? "Uma lança de Zeus." Quem te engravidou? "Foi o Boto de Branco." Como você está grávida se é virgem? "Foi o espírito santo de deus." E pronto. O inexplicável, passa a fazer sentido e a dor de não saber está curada.
Imagine agora que você não consegue aceitar qualquer dessas explicações e que não haja nenhuma forma de explicação plausível. Este é o niista que não encontra razão ou sentido existencial para o mundo e para si próprio. E se não há razão, se não existe sentido, logo "Deus está morto". Porque só a existência de algo além do conhecimento pode dar sentido para aquilo que não sabemos explicar. Sem a aceitação de uma explicação, não há um deus.
Pode parecer que esta conclusão de Nietzsche se refira diretamente aos dogmas religiosos. Mas, como eu disse, esta é a frase mais incompreendida da filosofia.
Mesmo sendo o próprio Nietzsche também um cético a respeito das explicações divinas para a existência, a frase não é uma negação frontal aos dogmas. Mas sim, se refere ao estado de absoluto abismo existencial no qual se encontra o niilista.
E mesmo eu agora, escrevendo este texto ou você aí lendo não poderia se perguntar "_para quê?".
Marcos Profanus