A PASTORA - 10
Depois de ter sido abandonado por Alice, Adolfo recrudesceu o seu mau humor e grosserias com a esposa e a filha. De certa forma, ainda que irracionalmente, culpava-as do que tinha acontecido. Via na filha a imagem de Jeniffer, se entregando para um homem qualquer, talvez igual a ele mesmo, ficando grávida e morrendo ao tentar fazer um aborto. Odiava-a porque sabia que isso poderia acontecer. E odiava a esposa, por achar que ela dava cobertura a tudo o que a filha quisesse fazer. A paranoia tomou conta dele, tornando a vida de sua família mais difícil do que já era.
Foi nesse clima que Elizabete se preparou para o seu primeiro encontro com Benjamim na cabana.
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Com os cabelos presos, capacete e óculos escuros, tênis, calça justa, de malha, e jaqueta de mangas com zíper na frente, Elizabete nunca estaria saindo daquele jeito para um encontro. Tampouco seria facilmente reconhecida. Para todos os efeitos ela era apenas uma atleta pedalando em um dia de domingo.
Seguiu por uma rua larga e praticamente deserta, contornou algumas praças e em pouco tempo chegou à ponte. Depois dela, pedalou por mais 1 km até encontrar a entrada que dava acesso à cabana. Nem era uma estrada. Havia muitas árvores e arbustos de ambos os lados, e o chão, onde devia haver marcas de pneus, estava coberto por ervas rasteiras e gramíneas.
Elizabete ficou extasiada quando a cabana se descortinou à sua frente. Era mais do que ela imaginara. Desceu da bicicleta e a largou no chão, sem se preocupar em encosta-la a alguma coisa. Foi andando vagarosamente, olhando para todos os lados, achando tudo muito bonito. De um lado da casa, Benjamim apareceu, sorrindo para ela. Elizabete correu ao seu encontro e eles se abraçaram fortemente.