A PASTORA - 3
Tinha certeza de que naquele dia não ia encontrar a pastora na estrada. Mesmo assim não se surpreendeu, quando, ao dobrar uma curva, a avistou. E em vez de se sentir com má sorte, sorriu como se fosse algo que estava querendo que acontecesse. Dessa vez, porém, havia bastante espaço do lado esquerdo, e a menina desviou o rebanho, liberando a estrada.
Quando emparelhou com ela, parou o ônibus e debruçou-se à janela para lhe falar.
-- Bom dia, senhorita pastora!
-- Bom dia, senhor motorista!
-- Não esperava lhe encontrar, porque hoje saí mais cedo para evitar transtorno com suas ovelhas.
-- Eu também saí mais cedo por isso.
Benjamim começou a rir, achando que aquilo tinha sido semelhante a quando duas pessoas se esbarram uma de frente para a outra e por alguns segundos não conseguem tomar rumos diferentes.
-- Acho que precisamos melhorar nossa comunicação – ele disse ainda sorrindo. E nem percebeu que não sorria assim há muito tempo.
-- Continue saindo mais cedo, que eu vou sair no meu horário normal – sugeriu candidamente a pastora.
-- Que tal você continuar saindo mais cedo, como fez hoje, e eu no meu horário normal?
-- Eu não sei. – Ela fez uma careta, porque estava de frente para o sol. – Pra mim não faz muita diferença se eu acordar um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde. Mas é mais fácil acontecer um pouco mais tarde.
Benjamim concordou, balançando a cabeça.
-- Está bem, pequena pastora. Com certeza as crianças dormem mais do que os adultos. Mas a verdade é que eu forcei as minhas crianças da escola a acordarem mais cedo por causa das suas ovelhas.
-- Não é por causa de minhas ovelhas, e sim por causa da estrada – ela disse, num raciocínio bem lógico.
-- Sim – anuiu –, você tem razão. A culpa toda é dessa maldita estrada. Mas a diretora disse que vai falar com o prefeito para que ela seja consertada.
-- Quem é a diretora?
-- Alice Miranda. Ela é diretora da escola onde estudam as crianças que eu transporto.
-- Ah! E ela vai mandar retirar as cercas?
-- Não acredito que isso seja possível.
-- E como vai alargar a estrada para caber o seu ônibus e as minhas ovelhas?
Ele não sabia o que responder, e coçou a cabeça.
-- Sabe, pequena pastora, talvez algum dia a gente tenha estrada larga onde caiba meu ônibus e suas ovelhas. Enquanto isso, vamos tentar nos ajeitar da forma como está. Eu preciso ir. Até logo.
-- Tchau!