A PASTORA - Trecho 2
-- Eu sou Benjamim... Sou o motorista do... – virou-se e apontou para o ônibus, mas tornou a olhar para ela, meio sem graça, porque percebeu que não era necessário ter se apresentado daquela forma. Ela já sabia que ele era o motorista. – Eu... eu transporto crianças do sítio para a escola da cidade... E não posso me atrasar... mas suas ovelhas... elas estão atrapalhando a passagem.
-- E o senhor acha que o que faz é muito importante?
-- Sim, levar crianças para a escola é muito importante!
-- Pra mim também é muito importante levar as ovelhas para um lugar onde elas possam comer.
-- Sim, claro, mas você não podia ir por outro caminho, fora da estrada?
-- Não existe outro caminho.
-- Não existe outro caminho?
-- Isso mesmo. Para onde eu preciso levar as ovelhas, o único caminho é este.
Ele ficou embasbacado, olhando para todos os lados, e concluiu que provavelmente ela tivesse razão. Sem saber o que dizer, perguntou:
-- E pra onde você está levando essas ovelhas?
A menina demorou alguns segundos, e em vez de responder fez outra pergunta.
-- Por que quer saber?
Sim, ela tinha razão: por que queria saber? O importante era ter a estrada livre, pegar os alunos e levar para a escola. Que importância tinha para onde uma garota estava levando suas ovelhas? Ovelhas não são tão importantes, como crianças que vão à escola. Assim mesmo respondeu, porque achava que a pergunta era pertinente.
-- Pra ter certeza se eu não poderia lhe ensinar outro caminho.
-- Ah! Tá bom. Olhe – apontou –, fica pra lá, depois que a estrada começa a subir e acaba a cerca. Seguindo pelo lado direito chego num lugar que tem muito pasto e ninguém é dono.
-- Como sabe que ninguém é dono?
-- Porque não tem cerca. Tudo que tem dono tá cercado, não é?
Fazia muito sentido o que ela dissera. As pessoas cercam tudo o que lhes pertencem. E era verdade: não havia outro caminho para onde ela precisava ir.