DIÁRIO DA QUARENTENA – PARTE 14
Não estamos no mesmo barco. Há mar demais para uns. Não há bote de salvação para todos. Estamos à deriva, alguns estão mais. O sal já desgasta o lábio de muitos. A terra prometida ainda não está à vista. Monstros de ontem parecem ressurgir, com revigorada fome. Jangadas programadas para travessias curtas, começam a ruir. Somos refugiados, impedidos de partir. A esperança teima em rugir ao longe, mas só é alcançada em alucinação. Todo dia o mar devora seus mortos. Não sabemos mais por quais chorar. O choro tornou-se banal, quase um ato de cortesia. Há mar demais ainda. Não sabemos quanto.