QUARENTA DIAS LONGE DO SOL
Os primeiros raios solares entregam que mais um dia fora iniciado.
Primeiro e talvez último.
A falta de perspectiva dentro deste buraco sem fim é gritante, estonteante e desesperançosa.
Para onde iremos? Para onde eu irei?
Sequer há placas para indicar a direção correta e a errada.
Seguimos tontos rumo à luz fosca no fim do túnel, escalando as paredes lamacentas, rasgando as roupas em pontiagudos degraus morais invisíveis.
Já não consigo enxergar mais nada. A escuridão tapou-me os olhos, arrancou-me os ouvidos e despiu-me de meus conceitos, jogando-me assim cada vez mais fundo neste infindo túnel.
Ó jovem brasileiro, o que tens na cabeça além da melancolia e pressão servindo como cordas espinhentas que lhe prende os braços e pernas?
​Grito sem dó de minha garganta. Imploro por socorro.
Por que matas a minha juventude, minha fé na vida e minha esperança de dias melhores?
Malditos engravatados!
Sugam-me cada gota de minha perspectiva e jogam-me no poço.
Onde fico...
quarenta dias... anos...
​afastado do sol.