AS FASES E AS FRASES DA PANDEMIA

Todo filósofo é autor de pelo menos uma frase pela qual ficou conhecido. O francês Blaise Pascal, nascido em 1623, saiu-se com esta contundente citação: "Nada de ruim aconteceria ao homem se ele ficasse o tempo todo quietinho dentro de seu quarto". Talvez naquela época ele tenha encontrado alguns adeptos desse pensamento, colocando-o em prática, mas nos dias de hoje, quando muito se luta para melhorar de vida, ficar recluso já é algo extremamente ruim. Para eu sobreviver, sei que minha batalha deve ser lá fora, no mundo. Mas agora, com esse vírus sempre à espreita, lembro da frase de Pascal e reconheço que ela tem algum sentido.

"Fique em casa". Logo no início da pandemia descobriram como o vírus ataca e essa passou a ser a recomendação para vencê-lo, aliada a esta outra: "Evite aglomerações".

Sábias palavras, sem dúvida. Se todos as seguissem à risca, estaria depenada a coruja, em outras palavras, o vírus não teria mais nenhuma chance.

Mas o mundo é cheio de pessoas teimosas, céticas e rebeldes. Ficar em casa pode ser barra pesada. Eu, por exemplo, mudaria a frase para "Fique quietinho em casa". Pois é preciso considerar que o vizinho também ficará em casa, e o vizinho pode ser aquele barulhento que gosta de funk a todo volume. Então, nada de ruim aconteceria ao homem se ele ficasse sozinho caminhando no bosque ou na orla da praia.

Assim, a pandemia entra numa fase de flexibilização, e anuncia-se uma nova frase: "Se puder, fique em casa". Afinal, em princípio nada de ruim acontecerá à comunidade se alguém for à padaria comprar um litro de leite.

Aí o povo considera que "se puder" é um sinal verde, pode sair, está liberado. E lá vão todos direto para as aglomerações. Também saio e observo as coisas como posso. Vejo gente dando-se as mãos, vejo homens jogando cartas em torno de uma pequena mesa, vejo a pandemia avançando.

Mas ainda há espaço para esperança e otimismo. Tanto é que os comunicadores lembram a toda hora: "Um dia isso vai passar".

Sei não, viu.