151 - Cento e Cinquenta e Um
Deixe, indefinida, a poesia. Nunca a aperte nos limites das palavras ou dos conceitos, viva-a sem lhe apagar o aroma, a subtileza, a intimidade que a torna tão nossa e tão especial, tão a verdade incontestável que se pode não sentir e se recusa sem a diminuir. Se, porém, quiser falar dela, compare-a a uma emoção fina, leve, à beira de não ser sendo tudo. Faça dela o abalo e a espada, a lâmina que fere para expor as nossas lágrimas, o rasto de luz, a centelha que nos individualiza. Volte com ela para a alegria sem razão, para a renda de uma espuma, para a nudez ou para a verdade que sob tule se adivinha e nunca se recorta para que, iluminada se veja absoluta. Reserve para ela o seu melhor olhar, o mais firme, o mais agudo, o que sirva para a acolher sem saber quem é.