150 - Cento e Cinquenta
Não é pedra o ovo de serpente. Um qualquer dia poderá descer dele o réptil que dorme o fim da sua espera, poderá vir sem que me aperceba, tocar-me de leve, deslizar no sonho que me embale e ficar como sentinela para se mirar no horror que lhe mostrem os meus olhos. Depois, talvez chegue ao fim da nudez e nela descarregue a vontade que traga. Não será por certo assim tão real e previsível. Gastei todas as lágrimas e esqueci a tua voz. Apaga-se a memória para sobrevivermos sem a antiga sede que sempre impediu que voasse mais alto. Se voltares acharás indiferente a minha pele e estarei imune ao que me digas. Tu ou a serpente acharão um corpo frio e um coração ausente.